António Lobo Xavier desafiou Ribeiro e Castro a colocar ordem no Grupo Parlamentar do CDS/PP, o que pode ser interpretado como uma abertura do caminho a Paulo Portas. Ribeiro e Castro tem uma conjuntura difícil pela frente e a circunstância de não ser deputado também não o ajuda. Uma entrada em conflito directo e aberto com a bancada do seu partido ainda pode fragilizar mais a sua posição.
António Lobo Xavier desafiou Ribeiro e Castro a colocar ordem no Grupo Parlamentar do CDS/PP. Esta quarta-feira, no programa da SIC-Notícias, "Quadratura do Círculo", Lobo Xavier considerou que as declarações de vários deputados do CDS/PP, designadamente António Pires de Lima e Mota Soares sobre as eleições presidenciais e a vitória de Cavaco Silva são contrárias ao discurso e orientação do presidente do partido, Ribeiro e Castro, e dos órgãos do partido. Esta segunda-feira, Pires de Lima considerou que com a eleição de Cavaco, e Sócrates como primeiro-ministro, surge oportunidade para o CDS "ter um espaço muito interessante para fazer um discurso afirmativo e mobilizador" à direita. Pires de Lima ainda referiu que o PP tem de ser autónomo, sem cair na tutela presidencial, rematando que "se a liderança for competente, há um espaço em aberto", numa provocação clara a Ribeiro e Castro. Por sua vez Mota Soares considerou que sem o apoio do PP, Cavaco não teria ganho, uma declaração idêntica à proferida por Narana Coissoró na noite das eleições. Ambos os deputados também consideraram que Cavaco não deve esquecer algumas batalhas caras ao PP, como a revisão constitucional e as leis laborais, traduzindo as contrapartidas que deverão ser exigidas ao novo inquilino eleito. Recorde-se que tanto Pires de Lima como Mota Soares são muito próximo de Paulo Portas, tendo desempenhado cargos directivos destacados no consulado do ex-ministro da Defesa. As declarações dos dois deputados são, de facto, contraditórias com as declarações do líder do partido, que não exigiu nada a Cavaco nem estabeleceu metas ou novas linhas estratégicas para o futuro. Foi, neste quadro, que Lobo Xavier fez as suas criticas, chegando a dizer que com ele isso não aconteceria. No tempo da direcção de Paulo Portas, Lobo Xavier foi um importante aliado do ex-ministro da Defesa. Nos últimos tempos, por causa da candidatura de Cavaco, os dois homens divergiram, pelo menos no entusiasmo ao professor. Paulo Portas fez uma timída declaração de apoio a Cavaco, enquanto Lobo Xavier foi muito mais aberto. Há quem diga que Lobo Xavier está vaticinado para liderar um dia o CDS. Mas também há quem afirme que Lobo Xavier e Paulo Portas continuam com grandes pontos de convergência e que o primeiro nunca irá contra a posição do segundo. O facto de Lobo Xavier desafiar hoje Ribeiro e Castro a colocar ordem no partido pode ser mesmo interpretado como uma abertura do caminho a Paulo Portas. Ribeiro e Castro tem uma conjuntura difícil pela frente e a circunstância de não ser deputado também não o ajuda. Uma entrada em conflito directo e aberto com a bancada do seu partido ainda pode fragilizar mais a sua posição. Na hipótese do actual líder do PP entrar em ruptura com a bancada parlamentar, talvez envolvendo processos disciplinares, pode acontecer que os deputados passem a independentes, deixando Ribeiro e Castro ainda mais debilitado. O facto é que, no quadro dos estatutos do PP, os discursos contraditórios entre Ribeiro e Castro e a sua bancada parecem violar o que diz o artigo 56º dos estatutos sobre o grupo parlamentar do partido. O artigo refere que os deputados populares devem conformar as suas posições com a orientação fixada pelos órgãos deliberativos do partido e com as dirctivas emanadas da Comissão Política Nacional. Nos mesmos estatutos também se diz que, sem prejuízo da liberdade de opinião, os militantes devem defender a unidade e o fortalecimento do partido. Nos últimos meses, a guerra entre o grupo parlamentar do PP, constituído por deputados afectos à antiga direcção de Paulo Portas, e a liderança de Ribeiro e Castro, conquistada já depois das eleições legislativas de Fevereiro de 2005, tem tido vários episódios. Há dois meses, quando se assistia a um crescendo das dissonâncias em torno da candidatura presidencial de Cavaco, os dois sectores chegaram a entrar em conflito por causa de um projecto sobre investigação médica ao nível das células estaminais. A bancada defendeu o projecto e Ribeiro e Castro rejeitou-o, colocando-se à direita dos deputados. Aliás, Ribeiro e Castro, tem surpreendido pelo discurso radical em algumas matérias. O líder do CDS/PP considerou recentemente que "o terrorismo era filho da esquerda" e que Che Guevara foi um assassino.